quarta-feira, 20 de junho de 2012

Dia internacional do Surfe







Ela anda sem destino ao nosso redor, envolta em preto, em sua vestimenta sagrada, seus olhos penetram profundamente e nós desviamos o olhar.

Ela controla a besta amarela e a impulsiona a uma velocidade impressionante. Através da areia, do vento e das pedras, ela se aproxima. Então o silêncio. Então as nuvens. Então a escuridão. 

Nos braços abertos de uma grande montanha reside arte eterna em descanso. Ela nos guia e nós a seguimos. Ela é um raio negro. Suas mãos se juntam e ela nos dá o presente.

Girando. Ondulando. Dançando. Eletric Blue Heaven.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Pânico no salão


Contra arrastões em restaurantes e bares, o Governo do Estado de São Paulo anunciou que irá aumentar as patrulhas policiais em dias festivos, uma medida que soa ridícula, pois é óbvio que não haverá assaltos quando as ruas estiverem abarrotadas de gente. Desde o começo do ano até agora, segundo a contagem da Folha, foram 22 os casos de roubos a esses estabelecimentos, todos localizados nos pólos gastronômicos de São Paulo, e 18 desses praticados entre 22h e 1h da madrugada. Os dias com maior incidência são às terças e quartas-feiras.

A mídia prefere inflamar o clima de insegurança provocado por esses arrastões: dá voz exagerada a clientes, vítimas indignadas com o fato de terem seus bens subtraídos de um local em que foram para deleitarem-se ("Sempre achei que aqui fosse seguro. Jamais esperava por isso." E por aí vai...). Os comerciantes, mais racionais, buscam analisar o fato com frieza para não espantarem sua clientela: "Iremos providenciar botões antipânico, instalaremos também câmeras de segurança nas partes interna e externa." Não sem também responsabilizarem a polícia, que vem classificando a onda delituosa como um "modismo" adotado por bandidos que, em geral, são quadrilhas de jovens menores de idade. Segundo a polícia, 14 bandidos de uma mesma quadrilha já foram pegos. Eles moravam no Glicério, bairro violento próximo à Sé e Avenida do Estado.

Discutindo o assunto com meu pai, ele lançou uma questão que até agora não vi ser debatida: será que a ousadia dos bandidos de invadirem estabelecimentos cheios, em regiões nobres da capital, não está ocorrendo porque os mesmos sabem que a população está desarmada?

Sei que a Lei do Desarmamento contribuiu muito para reduzir os índices de criminalidade, principalmente a taxa de homicídios, que era acima de 30 por grupo de 100 mil habitantes em São Paulo dez anos atrás. No entanto, ao desarmar a população, também abriu-se precedente para os criminosos agirem mais confiantes, pois sabem que dificilmente suas vítimas agirão.

Creio que os arrastões em bares e restaurantes têm sido noticiados semanalmente porque as quadrilhas sabem que os comerciantes não possuem porte de arma, tampouco os clientes que ali estão. Preferiram deixar de atuar nos semáforos, individualmente, para, em grupo, invadirem um local com alta concentração de cartões de crédito, dinheiro, celulares, jóias e notebooks.

Nosso país deveria flexibilizar o porte de arma. Oferecer a quem não tenha antecedentes criminais e possua diploma de nível superior, um curso completo de tiro, desde a prática até submeter a pessoa a exames psicoténicos etc.

Antigamente, meu pai me disse, os comerciantes guardavam suas armas em baixo do balcão e ladrão nenhum roubava seu comércio com tanta facilidade como hoje em dia.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Uma revolução tal qual a Leica

A segunda edição da revista Zum (Instituto Moreira Sales) traz neste semestre interessante material de guerra. Tratam-se de fotos do coletivo Basetrack, composto por dois fotógrafos húngaros, uma canadense e mais um inglês, que foi criado em 2010 para, juntos, acompanharem o cotidiano de um grupo de fuzileiros navais norte-americanos no Afeganistão.

O inovador desse projeto é que, no lugar de câmeras profissionais, os quatro viajantes foram munidos apenas com seus Iphones para fazerem o material de guerra. A ideia de acompanharem o dia a dia dos militares americanos somente com smartphones surgiu por conta da carência que as famílias desses vinham sentido.

A aproximação quase que irrestrita ao batalhão durou sete meses e foi acompanhada pelos familiares através das redes sociais. Dessa forma, nasceu um álbum que é um importante registro histórico, ao mesmo tempo em que não deixa de ser intimista e familiar. Coisa bem bacana mesmo (veja fotos mais abaixo).

Mas uma hora, é claro, a invasão de intimidade incomodou o governo norte-americano, e, aí, o coletivo teve que regressar do deserto.

Não é a primeira vez que se usa celular para registrar uma guerra. É cada vez mais recorrente o uso dessa ferramenta, principalmente devido à sua mobilidade, funcionalidade e sua facildade de compartilhamento de fotos. Praça Tahir no Cairo, Wall Street, na captura do ditador líbio Muammar Kadafi. Tal qual a portátil Leica do começo do século passado, os celulares de hoje tornaram-se importantes instrumentos de registro da História.




















Agora, coloco também aqui em baixo a coluna do Luis Fernando Veríssimo publicada hoje no Estadão. Achei que ela tem bastante a ver com o assunto. Pura coincidência.

Como imaginar uma orgia

26 de abril de 2012 | 3h 10
Verissimo - O Estado de S.Paulo
 
A minicâmera e o grampo telefônico ainda podem fazer mais pela moral na política do que toda a fiscalização e todos os mandamentos cristãos juntos. Supõe-se que depois dos escândalos recentemente grampeados as pessoas fiquem mais cautelosas, ou mais reticentes. Corruptos e corruptores continuarão a existir mas não agirão nem falarão mais tão livremente, pelo menos não antes de procurar a câmera e o microfone escondidos. O que deve no mínimo dificultar os negócios.

Os avanços da técnica revolucionaram o registro histórico. Imagine se quando o Kennedy foi assassinado já existissem os gravadores e os celulares que hoje substituem as câmeras fotográficas até no aniversário do cachorro. Em vez daquele precário filme em 8 mm do atentado, estudado e reestudado quadro a quadro na busca de vestígios de uma conspiração, haveriam teipes e fotos de todos os ângulos e com todas as respostas, como a cara, o nome e o CIC dos possíveis conspiradores.

Mas a técnica, ao mesmo tempo que desestimula a falcatrua, comprova a denúncia, desmancha o mistério e enriquece a notícia, pode empobrecer nossa percepção dos fatos. As grandes batalhas e os grandes eventos da era pré-fotográfica foram registrados em quadros épicos em que o artista ordenava a cena em função do efeito, não do fato, ou não exatamente do fato. A Primeira Guerra Mundial não foi mais terrível do que muitas guerras anteriores, só foi a primeira guerra filmada, a primeira com a imagem tremida e sem cor, e por isso parece tão mais feia do que as guerras heroicamente pintadas. A guerra do Vietnã foi a primeira transmitida pela tevê, a primeira em que o sangue respingou no tapete da sala. Por isso deu nojo. Os americanos aprenderam a lição e transformaram sua invasão do Iraque num videogame.

Até surgir a possibilidade de ser tecnicamente denunciado, o político corrupto podia contar com a condescendência do público. Mesmo quando não havia dúvidas quanto à sua corrupção, havia sempre a suspeita de que não era bem assim. Sua culpa - até se ouvir sua voz gravada combinando a divisão dos milhões, ou ver sua imagem forrando os sapatos com dinheiro - era sempre uma conjetura. Imaginávamos o que acontecia nos bastidores do poder corrupto mas era um pouco como imaginar uma orgia romana, ou visualizar uma orgia romana através da imaginação de um artista. Agora não. Com a banalização do grampo telefônico e da minicâmera escondida, temos o que faltava no quadro. Temos todos os sórdidos detalhes e a orgia às claras. Temos o que enoja.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Adeus, gênio

"Todos os pensadores internacionais batidos no liquidificador não dariam meio copo do Millôr."
Ruy Castro, no velório realizado no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na zona portuária do Rio, esta quinta (29).


"Viver é desenhar sem borracha"
Millôr Fernandes
1924-2012

terça-feira, 27 de março de 2012

Despertar


A coisa mais engraçada dos contos de fadas é que nos esquecemos deles rapidamente.

E aí crescemos, compramos coisas, construimos barreiras.

Vendemos nossa inocência e esquecemos dos nossos sonhos.

Nós esquecemos de quem nós somos em detrimento de ser o que não somos.

E vamos continuar acreditando nessas ditas verdades, até esquecermos como viver. Ou até abrirmos nossos olhos, e acordar.

Trailer do filme Intentio, de Löic Wirth.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Cásper: o movimento está apenas começando

da FOLHA.COM



19/03/2012-20h35

Professor da Cásper Líbero recusa convite para reassumir cargo

EVANDRO SPINELLI
DE SÃO PAULO



O professor Edson Flosi, demitido no início do mês pela Faculdade Cásper Líbero, disse nesta segunda-feira que não aceita a proposta da faculdade de retomar seu antigo cargo e afirma que a luta dos estudantes deve continuar.Após protestos, Cásper Líbero convida professor a reassumir postoA demissão gerou uma crise na instituição. Com isso, a Cásper Líbero voltou atrás e convidou Flosi a retomar suas funções.Na semana passada, houve protesto dos alunos e, em solidariedade a Flosi, o também professor Caio Túlio Costa pediu demissão.Em nota, Flosi afirmou que sua demissão foi uma injustiça, mas que a manifestação dos estudantes tem relação com a qualidade de ensino e outros problemas da instituição, não apenas com sua demissão.Segundo ele, "qualquer manobra para esvaziar o movimento dos estudantes deve ser repudiada energicamente".Veja a íntegra da nota oficial de Flosi."Tomei conhecimento pela Imprensa do convite da Fundação Cásper Líbero e da Faculdade Cásper Líbero para reeassumir minhas funções naquela instituição de ensino, onde lecionei por 16 anos, até ser demitido em meio a grave doença que me acometeu. Minha resposta: não volto, não posso e não devo voltar.Não volto porque a manifestação estudantil não acontece apenas pela minha volta ou pela volta do Prof. Caio Túlio Costa, que se demitiu solidário à injustiça que sofri. Não volto porque a manifestação estudantil, conduzida pelo Centro Acadêmico Vladimir Herzog, tem o objetivo maior de lutar por melhores condições de ensino na Faculdade Cásper Líbero.Comigo e o Prof. Caio Túlio dentro ou fora da Faculdade, a luta dos estudantes deve continuar até que a Mantenedora e a Faculdade se dignem a atender suas reivindicações, principalmente a transparência entre a receita das mensalidades pagas pelos alunos e outras taxas, e o valor investido no ensino. Além da solidariedade que me emprestou, a falta de estrutura na Faculdade, que reflete no ensino deficiente, foi a bandeira levantada pelo Prof. Caio Túlio na sua carta de demissão.Os estudantes devem continuar lutando até conquistarem o que lhes é de direito. Agradeço comovido a manifestação estudantil que também acontece a meu favor e a favor do Prof. Caio Túlio. Mas o objetivo maior dessa juventude que paga mais de mil reais por mês para estudar deve ser perseguido até o fim. Qualquer manobra para esvaziar o movimento dos estudantes deve ser repudiada energicamente. A luta continua. Todo poder aos estudantes."

domingo, 18 de março de 2012

(A)Fundação Cásper Líbero


A Fundação Cásper Líbero, da qual receberei meu diploma de jornalista (hope so), demitiu na semana passada um de seus mais antigos professores, o jornalista e advogado criminalista Edson Flosi, que nos últimos dois anos estava de licença para iniciar sua luta contra um câncer terminal. Em solidarieade ao colega, o professor titular de Ética jornalística, Caio Túlio Costa, resolveu se demitir, em caráter irrevogável.

É triste ver a primeira e mais antiga faculdade de jornalismo do país, formando profissionais da área desde 1948, numa situação dessas. Duas perdas irreparáveis para o quadro da faculdade e para a formação do que lá estão.

Quando me chegou a notícia, quinta passada (15) fiquei paralisado, custei a acreditar. "Como?", indaguei, se dois dias atrás lá estava a diretora da Faculdade, Teresa Vitali, bem atrás de mim, na modesa fila para pegar uma dedicatória do mestre, que lançava seu livro "Por trás da notícia", na livraria Martins Fontes da Avenida Paulista?

Como ela teve tamanha frieza e cinismo para ir ao encontro do professor em um dia tão especial - para ele - comprar seu livro, permanecer na fila e felicitá-lo? No dia seguinte nos chegou a notícia.

Embora Flosi não estivesse mais dando suas aulas de Legislação e Práticas Jurídicas (tive a sorte de pertencer à sua última turma, de 2009, e fiz questão de dizer isso a ele na livraria), prestava o serviço de assessor da diretoria, comparecendo regularmente na faculdade.

Publico também a íntegra da entrevista que o Centro Acadêmico da faculdade fez com ele, no sábado. Ela é muito reveladora e vai exigir trabalho dos alunos para que a Fundação seja mais transparente com o dinheiro que recebe e administra.



Na manhã de sábado (17) o professor Edson Flosi falou pela primeira vez com o Centro Acadêmico Vladimir Herzog (CAVH). Representando o CAVH, a estudante de jornalismo e diretora pedagógica da Gestão Comunica, Melina Sternberg, conversou por quase uma hora com o professor que foi demitido da Faculdade Cásper Líbero há quase duas semanas.


CAVH – Professor, bom dia. Gostaríamos de esclarecer algumas dúvidas que ficaram após a reunião com a Diretoria da Cásper ontem, sexta-feira. Agora que o senhor foi demitido, como fica a situação do seu plano de saúde? Segundo a Diretoria, ele vai se manter normalmente...
Edson Flosi – Isso é mentira. O plano de saúde que eu tinha pela faculdade era muito valioso pra mim, porque o plano cobria as sessões de quimioterapia. Eu pagava R$ 250 por mês e a Fundação pagava mais uma parte. Esse plano era empresarial. Quando eu fui demitido, no dia 5 de março, o meu plano da Faculdade fechou. Existe uma Lei Federal que permite que eu faça a migração do plano para o plano de saúde individual. Fazendo isso, eu tenho que pagar a mais. A partir desse mês eu estou pagando R$ 750 reais, pra ter os mesmos direitos. Isso é uma Lei Federal, não é favor da Faculdade. A única coisa que a faculdade fez foi encaminhar meus papéis pra seguradora.

CAVH – Como foi o seu afastamento da sala de aula?
EF – Eu trabalhei 16 anos lá. Nos últimos dois, de 2010 e 2011 eu fiquei muito doente. Eu tive que me afastar das aulas da graduação, oito por semana. Com mais quatro aulas de TCC, então eram doze aulas no total. Então fiquei só com as quatro horas do TCC, às segundas-feiras. Como eu não tinha um orientando específico, então eu dava uma orientação geral para os grupos que necessitavam. Em 2012 a situação podia perdurar, mas eu não fui convidado – não pelos alunos, mas pelos professores que fazem a distribuição dos alunos pro TCC. Primeiro parte dos alunos escolher o professor, segundo, há professores que organizam os grupos porque tem professores que já orientam muitos TCCs. Podiam ter feito isso comigo, mas não fizeram. Eu poderia continuar vinculado a coordenadoria dando aulas de TCC, não tinha nenhuma dificuldade em fazer isso. Quando eu parei de dar aula na graduação eu tava doente, eu fiquei só com as aulas de TCC e como assessor. Fui simplesmente demitido. Eles não me deram as aulas, como eu ia lecionar?

CAVH – Como era seu trabalho como assessor da Diretoria?
EF – Eu já era assessor da diretoria desde 2004. Como assessor eu fui o presidente da comissão de reforma do Regimento Interno, que foi debatido com alunos, professores e em 7 reuniões do Conselho Técnico Administrativo [CTA] que eu coordenei. O processo durou 5 anos até ser aprovado no MEC. Além desse trabalho do regimento, eu dei a forma jurídica ao Plano de Desenvolvimento Institucional. Foi um trabalho de um ano. Eu também era o responsável pelos pedidos de abono de falta. Eu não me limitava a deferir ou indeferir o pedido do aluno. Eu ligava pra casa do aluno, falava com os pais e ajudava. Eu resolvia caso por caso amparando e protegendo o aluno. Eu também sempre fui, nos últimos dez anos, o presidente da comissão eleitoral de todas as eleições da faculdade, dos corpos docente e discente. Ganhando como assessor eu estava praticamente pagando pra trabalhar. Mesmo assim eu não pedi demissão porque tinham outros fatores que me permitiam continuar, como o Seguro de Vida, o plano de saúde, que eu pagava menos, etc.

CAVH- O senhor poderia ter optado por uma licença?
EF – Na Faculdade é que eu poderia, como qualquer professor, tirar uma licença por dois anos, prevista no Regimento Interno e nos convênios com o Sindicato dos Professores, que renovam todo ano. Eu poderia pedir a licença e ir pro INSS pedir uma parte do salário, mas eu não posso, porque eu sou aposentado como jornalista. Eu continuaria professor da faculdade só que sem receber nada,porque a licença não é remunerada. Ninguém me ofereceu nenhuma licença – e se tivessem me oferecido eu teria recusado. Por que eu pediria licença? Eu tava cumprindo minhas obrigações todas.

CAVH – Qual foi o motivo da sua demissão? Como o senhor recebeu essa notícia?
EF – Não deram nenhum motivo pra demissão. Não tentaram nenhum acordo, nada. É um direito da empresa me demitir. Câncer não gera estabilidade, tá no direito dela. Eles pagaram todos os direitos trabalhistas – isso por causa da lei, não é favor nenhum. Eu nem sabia que eu ia ser demitido. Eles vão pagar o aviso prévio, como também a semestralidade, as férias, tudo. O que me magoou não foi a demissão, porque a empresa tá no direito dela. O que magoou foi o tratamento tão repugnante a um professor que trabalhou por 16 anos. De repente eles chegam e falam que eu tô despedido. A maneira que eu fui tratado me magoou muito. Quanto à demissão, aí não: demissão é demissão, todo mundo é demitido e acabou.

CAVH - Você acredita que a Diretoria teria podido, digamos, lutar mais pelo senhor em relação à Mantenedora?
EF – Olha, eu vou responder esta pergunta de outro forma: a Diretoria, ela deveria, até pra salvar-se, ela deveria lutar mais por muitas coisas na Faculdade. Uma delas é minha demissão, mas outra é melhoria de ensino, é melhoria das salas de aula, é ampliação de salas de aula e de número de professores pra ter menos alunos em algumas salas de aula... É ar condicionado, é uma área de lazer que esta Faculdade não tem.

CAVH – O senhor acredita que o seu caso é um gancho para esses outros pontos – levantados inclusive na carta de demissão do Caio Túlio?
EF – Isso que você falou é muito importante. Eu quero que o meu caso se transforme num gancho, no incio da causa pra novas conquistas na faculdade. A faculdade tem 2500 alunos e arrecada milhões por mês. Vai tudo pra mantenedora, a faculdade não fica com nada. A Faculdade isolada, mas ela tem por trás uma Fundação, que não pode ter lucros. Vocês tem que participar de todas as reuniões de verba, vocês precisam receber planilhas contábeis todo mês, descobrir onde está o ralo por onde esse dinheiro vai embora. Vocês tem que falar, brigar, mas não por mim, nem pelo Caio Túlio. Vocês tem que brigar pelos interesses de vocês, pelo ensino, pensando no futuro e, principalmente pra manter lá em cima o nome da Cásper Líbero, que sempre foi uma faculdade de renome, uma das melhores que tem no brasil e que agora tá descampando... Que é isso!Eu queria que esse movimento continuasse pra lutar pelos outros problemas. Os estudantes tinham que esquecer o Flosi, esquecer o Caio Túlio e lutar por mais participação.

CAVH – Através de que órgãos os estudantes poderiam ter mais atuação e cobrar a transparência?
EF – O Conselho Técnico Administrativo é o coração da Faculdade. Por cima dele só tem a Congregação, que só se reúne duas vezes por ano - o que não adianta nada. O corpo discente tem só 8 representantes na Congregação, e a Congregação tem 120 votos dos professores. 120 contra 8 não adianta nada! Nas reuniões do CTA tem 15 professores. São 15 votos contra um [do representante discente]. Isso é tapar o sol com a peneira! O corpo discente só terá participação efetiva participará se lutar por uma cogestão, por mais representantes nas decisões da Faculdade.

CAVH - Qual a relação da Fundação com o Ministério Público?
EF – O Ministério Público é o curador da Faculdade, eu sei que é. Vocês precisam pedir esclarecimentos : que fiscalização que ele tá exercendo nas contas da Faculdade? O Sérgio Felipe [Superintendente Geral da Fundação, Sérgio Felipe dos Santos] tem que prestar conta para vocês, a Mantenedora, de tudo que ele gasta, de tudo que ele faz.

CAVH – Como se dá a relação da Faculdade com a Mantenedora?
EF – A Mantenedora, pelo próprio Regimento Interno, não tem nada a ver com a Faculdade, com o ensino, com a parte pedagógica, nada, nada. Ela só tem a ver com dinheiro. Quando a Faculdade precisa fazer despesas, ela pede pra Mantenedora, a Mantenedora libera a verba. Faculdade arrecada tanto, manda tudo pra Mantenedora. Mas este dinheiro tem que voltar. E está voltando? Mentira! Claro que não. Vamos por quatro alunos, que um é pouco, para participar da cogestão, representando o Centro Acadêmico e participando das despesas e das receitas; aprovando as despesas e as receitas da Faculdade. Eles vão levar a sério isso porque aluno é jovem e jovem não se corrompe.

CAVH – Sabemos que houve uma redução do pagamento de horas/aula do TCC e que os professores não foram pagos em janeiro. Esse é um caso de interferência da Mantenedora?
EF – TCC é aula como qualquer outra aula. O professor deu aula de TCC o ano todo de 2011. Ele chega em janeiro, ele não tá faltando às aulas, ele tá em recesso. Recesso é previsto em lei. Você não pode mudar o ordenado do professor em recesso. Eles cortaram as aulas de TCC de janeiro e fevereiro. Cortaram por quê? Pra fazer economia, porque a Mantenedora quer ficar com o dinheiro.

CAVH – E esse é mais um caso em que a Faculdade poderia ter lutado pelos professores, não?
EF – Além de agredidos, [os professores] se sentiram prejudicados, porque foram receber o ordenado e tinham menos dinheiro. A Diretoria foi lutar por isso pra impedir esta agressão? Foi nada. Nada. Tem outros professores que eu não to autorizado a falar o nome, mas é de conhecimento amplo da Faculdade, que foram demitidos por questões medíocres, mentirosas. E também a Diretoria não lutou por nada, defendeu ninguém. Ela é uma Diretoria omissa.

CAVH – O que senhor gostaria de dizer algo aos alunos?
EF – Gostaria que você levasse todos estes esclarecimentos. Levanta também a cogestão.

CAVH - Professor, em nome da gestão Comunica e do Centro Vladimir Herzog, afirmo que nós estamos totalmente solidários ao senhor e que a gente se coloca à sua disposição como o seu canal para continuar conversando com os alunos – porque a gente acredita que isso é essencial. A gente vai ouvir as suas palavras e levá-las em frente como a dedicação que o senhor deu pra Faculdade todos esses anos e que, com certeza, a gente vai fazer acontecer. Se é um pedido do senhor, a gente vai levar pra frente.
EF – Ouvir isso, um velho de setenta e dois anos, de uma estudante não seja minha aluna... Muito obrigado mesmo.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Livre arbítrio



A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu a venda de cigarros com aditivos que dão sabor artificial à droga, sob o argumento de que, com a medida, jovens adolescentes diminuam seu interesse pelo primeito trago e, assim, não venha a se viciarem.

"Ótimo", vibram os pais que sofrem para educar seus pentelhos que não lhes dão ouvidos. Isso é um raciocínio pequeno demais se projetarmos o que está em jogo uma medida como essa. Não está em discussão a hipótese de menos pessoas virem a se tornar dependentes químicos, mas sim o fato concreto de que quem pensa em fumar - ou mesmo quem já fuma - não terá mais na prateleira da banca ou da tabacaria a opção de escolher o fumo que menos lhe pega a garganta.

Aos poucos, o Governo vai restringido nossa possilidade de escolhas com argumento de que está preservando nossa saúde, nosso bem estar etc. Às vezes, porra, preciso errar no sal para saber o que é uma insossa; exagerar na bebida, para sofrer e me arrepender com a ressaca do dia seguinte; permanecer horas em pé em uma fila, para valorizar o repouso. Proibir o que está aí para ser experimentado é nos privar de nos conhecermos e sabermos o que nos agrada ou não.

Não me esqueço da sauna de Sampoern que era as matinês de quando tinha 15 anos de idade. Os primeiros tragos foram, não nego, em cigarros mentolados. Mas há algum fumante que acha essa merda de marca boa? "O governo deveria deixar as pessoas sentirem o gosto que quiserem em suas bocas", escreveu Luiz Felipe Pondé hoje.

Um governo que age assim, é como um pai que impede que seu filho conheça as belezas e as tristezas do mundo, tapando-lhe os olhos, ouvidos e nariz.

Espaço vazio

Enquanto Ruy Castro não se recupera do tombo que levou devido a uma perda súbita de consciência, sua coluna não vem sendo publicada.
A última que escreveu é esta aqui em baixo, de 20 de fevereiro de 2012. Já faz quase um mês.


Ruy Castro

Mais jovens do que somos

RIO DE JANEIRO - Nas fotos, eles estão sempre de terno escuro, pérola na gravata e competente chapéu. Alguns usam sobretudo, capa de chuva ou guarda-pó, donde concluo que fazia mais frio, chovia e ventava no Brasil do passado. Pelo menos, sobre os escritores.

São belas fotos. Numa delas, José Lins do Rego, Otavio Tarquínio de Souza, Paulo Prado, José Américo de Almeida e Gilberto Freyre parecem a ponto de tomar um navio para a Europa. Em outra, Guimarães Rosa, de paletó riscado e gravata borboleta, afaga seu gato. E, ainda em outra, os rapazes de 1922, alguns com suspeitos colarinhos parnasianos, posam pimpões para o futuro -sentado no chão, sem comprometer o vinco da calça, o galhofeiro Oswald.

Enquanto Hemingway ia direto da caçada, cheirando a elefante, para uma festa de gala, nossos escritores ainda viviam engomados. O primeiro a se deixar fotografar de calção, descalço e camisa aberta ao peito talvez tenha sido Jorge Amado. Em seguida, Vinicius de Moraes começaria sua transição do terno cinza para a camisa de malha preta, existencialista, e mocassins sem meias. E, pouco depois, Fernando Sabino diria que os escritores estavam perdendo a aura -por acaso, isso coincidia com a sua adesão às mangas curtas.

Não sei se pelas becas, mas todos aqueles homens pareciam mais velhos do que eram. Pense bem:Graciliano Ramos morreu com 60 anos; Rosa, 59; Zé Lins, 56; Clarice Lispector, 56; Olavo Bilac, 53; José de Alencar, 48; João do Rio, 39. Como construíram obras tão grandes em vidas tão curtas?

Daí penso nos colegas com quem cruzo no Leblon -bronzeados, de chinelo, bermudas, camiseta do Pernalonga, iPods à orelha-, todos parecendo mais jovens do que realmente somos. E me pergunto se esse à vontade quase indecente se refletirá em obras que atravessem décadas ou séculos, como as dos antigos.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Reunião de pauta do Jornal Meia Hora RJ

Tatuar ou não tatuar, eis a questão




Opinião10/03/2012 10h49
Artigo: As tatuagens, por J. J. Camargo
Colunista do Caderno Vida, de Zero Hora, comenta a moda da tatuagem na atualidade


A tentativa de mudar o aspecto original é milenar, seja por modismo ou inconformidade com a própria figura. E isso desde tempos remotos, quando gerações primitivas praticavam verdadeiras automutilações para lograrem uma imagem que era tão mais festejada quanto mais bizarra e chocante.

A moda da tatuagem atingiu na atualidade tons de obrigatoriedade, como se o não tatuado fosse um ser inferior, sem noção da importância de fazer parte dessa tribo de gosto, no mínimo, duvidoso.

Algumas mulheres, lindas e solenes como devem ser as lindas, batem o ponto com uma florzinha discreta na nuca, só visível quando, cheias de charme, enrolam os cabelos sob a aparente alegação, sempre falsa, de calor no pescoço.

Outras implantam um coraçãozinho colorido na virilha, onde só será visto por quem tenha tanta intimidade que ajude a remover o biquíni.

Até aqui, é pelo menos tolerável. Mais do que isso: é discutível. A propósito, qualquer tatuagem no dorso do pé parece sujeira.

Logo depois desfilam os ingênuos e os imprudentes, que tatuam declarações definitivas ao amor, esse sentimento marcado pela efemeridade. Como manter o entusiasmo sexual do Raul se logo acima do cóccix há uma jura de amor pelo Duda?

E a fé precisa ser assumida com frases nas costas? Desculpe, mas aquela espalda maravilhosamente linda que estava no elevador não merecia o “E livrai-nos de todo o mal. Amém!” Essa devoção estaria bem guardada em algum escaninho secreto da alma.

Claro que todos têm o inviolável direito de dar o destino que lhes agradar a sua própria aparência. Até os que praticam a aberração de tatuar o corpo inteiro, que dá aquele aspecto grotesco e repulsivo, e que desafiam os psiquiatras de plantão a tratar uma falência tão absoluta da autoestima. Não saberia como ajudá-los, e, assim, me limito a assistir, sem compreender.

O que é certo é que todo o tatuado ignora uma verdade absoluta e irrevogável: ele vai envelhecer!

Pensei nisso observando na fila de um banco. Um velho hippie que provavelmente na flor da juventude, lá pelos anos 70, tatuou um jaguar nas costas e uma declaração de amor no peito. Triste ver o bichano acocorado pelo enrugamento da pele. E quando ele se virou, me dei conta que a sua musa vai ter que se contentar com uma mensagem cifrada. Várias letras sumiram nas pregas da velhice. Tomara que a amada ainda seja a mesma – e que tenha boa memória.

ZERO HORA