terça-feira, 13 de setembro de 2011

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Movimento - Uma reportagem

Acabo de chegar do lançamento do livro Jornal Movimento - Uma reportagem, organizado pelo veterano jornalista Carlos Azevedo, editado pela Editora Manifesto.

O lançamento, em São Paulo, foi feito na livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos. Por volta das 19 horas começaram a chegar as primeiras pessoas. Eu cheguei um pouco mais cedo. Como a mesa e o banner do livro estavam montados bem ao lado da cafeteria e não havia ninguém por ali, resolvi tomar um expresso. Ao pedir, notei a presença de Azevedo - estava sentado em uma mesa atrás da bancada da cafeteria, mantendo conversa com mais umas três pessoas. Após fazer meu pedido, dei uma rápida olhada para ele e para seus acompanhantes. Não os reconheci. Ele também me fitou e acho que se lembrou de mim.

Depois do café, peguei o novo livro do Fernando Morais, Os úlitmos soldados da Guerra Fria, que estava exposto ali por perto. Sentei e li um capítulo todo, que escolhi a partir do índice. Ele falava sobre o escritor Gabriel Garcia Marquez ter sido uma espécie de pombo-correio de Fidel Castro, numa mensagem a ser enviada ao então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Fernando Morais retratou bem o episódio, naquele clima de guerra fria etc., mas confesso que achei a coisa meio monótona. Não sei se este novo livro dele vai fazer tanto sucesso quanto os outros.

Vamos ao que interessa. Como já esperado, me senti meio fora do ar ali no lançamento. Uma porção de gente mais velha que eu (mais velha que meus pais até) se encontrando, se abraçando, trocando palavras de afeto, de saudades. Deu para perceber que foram companheiros de uma mesma causa na época da circulação do jornal. Enquanto isso, uma pequena fila ia-se formando em frente à mesa para que Azevedo assinasse o livro de cada um. Decidi me dirigir ao fim dela. Enquanto esperava, mais pessoas se cumprimentavam. Um homem de camisa quadriculada retirou do bolso uma carterinha, que, olhando bem, vi que era de vendedor do Movimento. Ele, o jornal, perdurou muito às custas de estudantes que o vendiam por onde circulavam. Era um jornal de propriedade coletiva, possuiu mais de 400 acionistas, dos quais mais de 100 eram jornalistas. Portanto, no fundo, na intimidade, todos eram um pouquinho donos do Movimento.

Olhei para aquela cena. Meus olhos se arregalaram, sorri para o ex-vendedor com intenção de passar admiração. Mas não fiz mais nada. (Depois, já no carro, prester a ir embora, pensei na possibilidade de tê-lo entrevistado para meu livro. Me arrependi de não ter feito uma pergunta do tipo: "O quê você achava das capas do Elifas Andreato?" Se respondesse legal, comentando e tal, seria um testemunho interessante a acrescentar no trabalho. Pena. Vacilei.)

Chega minha vez. Dei a mão ao Azevedo e perguntei se se lembrava de mim. (chego à conclusão, agora, de que não se deve abordar as pessoas dessa maneira: além de ser meio pretensioso da sua parte você querer que ela lembre de você, é também constrangedor para a pessoa sela não vier a se lembrar) Ele forçou um pouco a memória e disse "Thiago Crepaldi". Vibrei e logo complementei lembrando-o da entrevista que fiz com ele no mês passado. Ele brincou se eu já havia conseguido falar com o Elifas. Disse que ainda não, mas que estava torrando a paciência da secretária dele quase toda a semana. Ele falou que realmente o Elifas não está dos mais acessíveis, principalmente por conta do problema com o álcoolismo, que o fez ficar recluso em sua casa no interior. "Talvez ele venha", esperançou-me. Agradeci a assinatura e sai.

Durante mais ou menos uns 15 minutos, fiquei ali meio de lado de tudo aquilo, sentado, observando as rodas formadas, tentando pescar alguma conversa ou reconhecer um ou outro que talvez pudesse entrevistar. Só pude notar o Raimundo (criador e editor-chefe do jornal), porque era muito assediado, e Duarte Pereira (responsável pelos editoriais do Movimento, os Ensaios Populares), que é bem falante e amigável com todos.

Subimos as escadas, ao auditório. Lá houve uma pequena homenagem a algumas pessoas que tiveram participação importante dentro do jornal. Dentre elas, as mulheres de Perceu Abramo (in memorian) e Sérgio Motta (in memorian), que, não sei direito, receberam um livreto. Duarte Pacheco foi chamado para falar e só deu os créditos a Raimundo. "Estou aqui para dizer que se tem uma pessoa aqui que merece destaque é o Raimundo. Mas ele não quis se destacar pois é o organizador do evento, por favor, palmas pra ele", pediu.

Audálio Dantas foi chamado para falar. Como sempre, Audálio, muito tranquilo e educado, cumprimentou a todos e deu um abraço forte em Raimundo. Deu para perceber que se consideram muito. Ele disse que o sindicato dos jornalistas, o qual presidiu, deu especial atenção ao jornal, que foi extremamente perseguido pelo regime de repressão. "Passamos semanas em que me encontrava com Raimundo e ele estava desolado. O jornal voltava mutilado, às vezes com só 20% do material enviado aprovado. E tinhamos que dar um jeito, fazer o jornal mesmo assim. Não é, Raimundo?", lembrou Audálio.

Audálio perguntou se Azevedo não queria falar algo. Ele brincou: "Eu não. Já escrevi o livro, poxa. Estou oco". Todos riram, eu inclusive; estava logo atrás dele, na segunda fileira. Audálio ainda perguntou se havia alguém conhecido na plateia. Raimundo disse que o correspondente de Movimento em Paris estava. A plateia se olhou, ele procurou, mas Azevedo avisou que já devia ter partido. Afinal, correspondente é assim mesmo... "E o Chico Buarque está aí? Fernando Henrique Cardoso?", perguntou Audálio. Raimundo respondeu: "Ele (Fernando Henrique) gostaria muito de estar aqui, mas está no exterior. Até chegou a me perguntar se não poderia adiar o evento para que ele viesse, mas só conseguimos alugar este espaço nesta data", explicou, lamentando.

Bernardo Kucinski chegou neste momento. Raimundo anuncia sua chegada e o convida a falar. Ele se negou, timidamente. Kucinski trabalhou no Em Tempo, Opinião e Movimento. Foi o correspondente de Londres. Escreveu uma tese de doutorado pela ECA-USP, em 1990, sobre quase todos os veículos da imprensa alternativa brasileira, fundamental para qualquer pesquisador do assunto.

A coisa no auditório acabou assim. Todos foram saindo do local para tomar uma taça de vinho, no andar de baixo, novamente. Desci as escadas, tirei algumas fotos, pensei em tentar alguma entrevista mas hesitei de novo, não sabia mesmo quem poderia abordar. O garçom começou a passar com a bandeja. Percebi que não deveria aceitar um copo. Aquilo não era para mim. Era um momento do qual eu não fazia parte. Do qual eu deveria apenas ficar à margem, observando o mais discretamente possível.

Enquanto me ocorria este pensamento, Kucinski passou ao meu lado animado perguntado "onde se comprava este livro?". Eu olhei pra ele e disse, apontando: Estavam vendendo naquela bancada, mas a moça que estava ali deve ter dado uma saída. Ele confirmou com a cabeça e se virou.

Dei mais uma olhada para aqueles velhos jornalistas reunidos e sai. Não sei se fiz certo ou errado em não ter abordado ninguém para meu trabalho. Talvez devesse ter sido um pouco cara-de-pau, menos tímido, mais REPÓRTER, um sujeito obstinado atrás do que precisa. Não sei...

Não vi ali jovens da mesma idade que eu. Talvez só uma ou outra pessoa. Mas desconfio que fossem parentes. Acho tudo uma pena. Jornais como esse, e como tantos outros tantos da Imprensa Alternativa deveriam ter mais atenção das escolas de jornalismo, de estudantes. Da imprensa também. Não havia uma emissora de TV por lá, pequena que fosse. Nem rádio, portal, nada. Só velhos jornalistas da esquerda, "companheiros de luta", se reencontrando após anos, relembrando um passado cujo objetivo comum era fazer a Revolução e que hoje estão soltos nesse Brasilzão incerto esperando que jovens jornalistas os substituiam à altura.




































sábado, 10 de setembro de 2011

Pesadelo

(Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro)

Quando um muro separa, uma ponte une
Se a vingança encara, o remorso pune
Você vem me agarra, alguém vem me solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua, ela um dia é nossa

Olha o muro, olha o poste
Olha o dia de ontem chegando
Que medo você tem de nós
Olha aí...

Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente...olha eu de novo
Pertubando a paz, exigindo o troco
Vamos por aí, eu e meu cachorro

Olha um verso, olha o outro
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós
Olha aí...

O muro caiu, olha a ponte
Da liberdade guardiã
O braço do Cristo-horizonte
Abraça o dia de amanhã
Olha aí...