sábado, 8 de outubro de 2011

Edson Garcia Flosi: repórter destemido


Vou falar sobre uma categoria que anda em crise nos últimos tempos: o repórter policial. Era esse o ofício diário de Edson Garcia Flosi - meu professor de Legislação e Práticas Judiciárias no 3º ano do curso de jornalismo da Cásper Líbero, em 2009. Flosi já estava com problemas de saúde e precisou se tratar. Tirou licença e parou de lecionar. Minha turma foi a última dele.

Hoje em dia são raros os repórteres que se dedicam exclusivamente à cobertura de assuntos criminais. Em São Paulo, creio que só há uma meia-dúzia de (bons) repórteres de jornal. Os veículos não têm mais dado atenção especial a esse tipo de assunto, de maneira que "qualquer repórter" ou "todo repórter" pode cobrir esse assunto.

Atualmente, um repórter dessa área recebe do pauteiro variados assuntos, que vão da agenda do Kassab à chuva que inundou o piscinão do Grajaú (inventei isso: não sei se existe um piscinão naquele bairro), passando, claro, pelos crimes da cidade. Eu, particularmente, acho isso errado. Antigamente, coisa de 15 anos pra trás, os jornais possuíam repórteres policiais fixos, ou seja: profissionais que eram destacados para acompanhar somente a cobertura criminal. Consequência: as histórias eram muito mais bem apuradas e contadas muito melhor. Você se prende na no texto de antigamente, percebe o estilo de contar de cada um. Sei que subjetividade no fazer jornalístico é tema de muita discórdia, mas acredito que pode haver estilo em cada texto, na maneira de narrar etc., desde que se preze pela imparcialidade dos fatos.

Edson Flosi era "o preferido de Cláudio Abramo (nas coberturas policiais), diretor de redação da Folha de S.Paulo nos idos de 70. Flosi se destacou por cobrir as operações policiais do delegado Sérgio Paranhos Fleury, diretor do Deic, acusado, dentre outros processos, de comandar o Esquadrão da Morte, responsável por centenas de execuções pelo estado de São Paulo.

Flosi também publicou reportagens na Folha que denunciaram graves irregularidades no IML de Guarulhos, denunciou haver premiações, dentro do Deic, dadas aos "bons" torturadores. Por conta dessa série de reportagens, seu filho, Edson Costa Flosi, contando 14 anos em 78, apanhou de dois homens quando saía da casa de uma colega na Avenida Brigadeiro Luis Antonio em direção a um ponto de ônibus.

O menino levou socos no estômago e tapas na cara, além de um empurrão que lhe fez cair e ralar os joelhos. A justificativa dada pela dupla que o abordou foi que "está apanhando pelas reportagens do seu pai". Dias antes, o garoto revelou que já havia atendido a telefonemas intimidatórios ("Cuidado quando andar na rua", "Você vai pagar pelas reportagens do seu pai") e que notara a presença de um mesmo carro o seguindo algumas vezes.

O sindicato dos jornalistas do estado de São Paulo emitiu nota no dia seguinte ao episódio denunciando e protestando contra a agressão sofrida, e registrando que entendiam o fato como parte de um esquema montado para atemorizar o repórter da Folha.

Mas Flosi não se intimidou: "Esse episódio veio apenas para temperar e dar mais força para as minhas denúncias", disse à época ao jornal.

Para encerrar o post, deixo o link de uma reportagem feita pela revista Joyce Pascowitch com o mestre, na oportunidade dele estar completando 70 anos e lançando o seu livro "Por trás da notícia", relato de sua experiência nas ruas como repórter policial.

http://revistajoycepascowitch.uol.com.br/Default.aspx?pID=1&eID=68&lP=52&rP=53&lT=page

Um comentário:

  1. Olá Thiago!

    Também sou jornalista, ex-aluna do Flosi e da Cásper. Parabéns pelo texto. Gostaria de saber se o livro dele, "Por trás da notícia", já foi publicado. Moro fora do Brasil, estou fazendo um trabalho sobre jornalismo investigativo, e não encontrei nada na net sobre o livro. Se souber de alguma coisa, me manda um e-mail: claudiaekstrom@yahoo.com.br

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